O
		NOVO E O VELHO 
O novo se faz velho e o velho se não
		for renovado, morre.
Foi nalguns desses velhos que estavam
		morrendo,
esquecidos lá para uns cantos, que
		peguei.
Dei-lhes mais uns toques, tornei-os mais apresentáveis,
		juntei-os aos novos
e coloquei-os a todos em determinada
		ordem.
Eis que aqui estão.
Velhas e novas criações
que
		passaram por estas mãos, por esta cabeça, por este
		coração.
Eis que vão para vós, com a
		esperança de serem bem aceites.
Com a esperança de
		vos enriquecer e de ser por vós enriquecidas.
Com a
		esperança de continuarem a viver...  
Novos e Velhos
Tudo
		se renova 
Até mesmo a morte 
Já traz em si a
		vida Se há um que acaba 
Há outro que começa
		
Se um se vai 
Logo outro aparece 
 É o eterno ciclo 
Da
		vida 
Na sua roda 
Que a cada fracção de
		segundo 
Se renova 
E neste dia 
E nesta hora 
Na
		progressão da comunicação 
Que possa estar
		aí contigo 
Nesse cantinho 
Nesse abrigo 
Que te
		possa transmitir algo 
Algo que possas aceitar 
Para também
		em ti 
A vida 
Se renovar
		
		
		
COMUNICADO
Receber
		e dar é comunicar 
Comunicação é
		alimentação 
E alimentação é
		comunicação 
E ao te comunicar este comunicado
		
Espero que fiques bem alimentado
		
		
		
ROSTOS
		NA RUA
Na rua 
rostos que passam 
o cansaço
		na face 
o desânimo na boca 
a tristeza nos olhos 
O
		trabalho 
o consumo 
a rotina 
a perspectiva perdida 
A
		boite 
o café 
a TV 
o passar o tempo 
Na rua
		
rostos que passam 
com um desejo com uma esperança 
à
		procura 
Na rua 
rostos que passam 
e tropeçam 
e
		se levantam 
e caminham
pela sua construção
		
		
		
CAMINHANDO
		
A calçada 
as pedras brancas da calçada 
Uma
		erva 
uma verde erva entre as pedras brancas da calçada
		
E a calçada cresce 
e os pés percorrem a
		calçada 
pés que passam 
pés que pisam
		
Pisam pedra 
pisam erva 
Pedra dura 
erva mole 
Pobre
		erva 
tantas vezes pisada 
quantas maltratada 
quantas
		indesejada 
Tantas vezes 
tantas vezes 
E contudo resiste
		
vive 
Que força 
que força e essa que
		trazes contigo 
A cidade 
os grandes prédios
		da cidade 
E a barraca 
a pobre e frágil barraca entre
		os fortes prédios da cidade 
E a cidade avança
		
Máquinas que destroem 
máquinas que constroem
		
máquinas que passam 
Passam governos 
passam
		decisões 
"Casas sim barracas não 
mas tu
		resistes 
que força é a tua 
Tens povo dentro
		
bem sei 
Mas que força e essa que tem o povo 
A
		Terra 
a grande bola que rola rola e mexe 
montanhas mares
		ventos fogo 
E o homem 
pequeno homem na superfície
		imensa 
E a Terra vive e se revira 
E o homem sofre 
se
		sofre 
ó homem quantas vezes-caíste 
e quantas
		te levantaste 
Que força é essa que está em
		ti
		
		
		
		- À PROCURA 
Passei
		pelas montras 
Olhei para as coisas 
No comércio do
		mundo 
Procurei 
Não encontrei 
Passei
		pelas coisas 
Olhei para o mundo 
No comércio das
		montras 
Vagueei 
Quase desesperei 
Passei
		pelo mundo 
Olhei para as montras 
No comércio das
		coisas 
Desilusões 
Mas continuei 
Passei
		pelo mundo das montras 
Olhei para as montras das coisas 
Toquei
		nas coisas do mundo 
Senti 
Senti as coisas 
Senti
		as montras 
Senti o mundo 
Percebi 
Contemplei
		
Compreendi 
Percebi os limites 
Contemplei o
		lindo presente 
Compreendi o Natal 
E além dos
		limites 
E bem mais que o presente 
Contendo todos os Natais
		
Tu mesmo
Meu irmão
Minha irmã
		
		
		
		- REEQUILÍBRIO 
As
		crianças divertem-se 
correm à apanhada 
jogam
		às escondidas 
pontapé na bola 
giram o pião
		
Brincam com a Terra 
Fissão fusão
		nuclear 
experiências 
radioactividade 
Estudam o
		brinquedo 
Fábricas empreendimentos
		
multinacionais 
fica a fralda suja 
Porcos avarentos
		
espalham porcaria 
Tiro para aqui 
bomba para ali
		
Jogam à pedrada 
Planos projectos secretos
		
policias e ladrões 
são uns brincalhões
		
Dão a volta à Terra 
lançam-se
		no espaço 
Espalham-se no chão 
Pintam
		a Terra às cores 
arrancam-lhe pedaços 
brincam
		com o brinquedo 
E não têm medo 
Esperemos
		que o brinquedo 
seja mesmo forte 
e que da brincadeira 
Não
		saia asneira 
Para que os filhos 
que tivermos
		
quando formos grandes 
Tenham ainda Terra 
para poder
		brincar 
Para que me mostrais tantos medos
		
espingardas canhões 
grandes explosões 
mortos
		feridos sangrentos 
lancinantes lamentos 
terríveis
		horrores 
Para que me mostrais tantos medos 
Não
		vedes que já morri 
morri a sério 
morri de vez
		
Para que me mostrais tantos medos 
Crianças
		
guardai vossos brinquedos 
Para que me mostrais
		tantos medos 
A guerra 
a guerra sempre existiu
		
mas a paz também 
Lá fora 
cá
		dentro 
nos outros 
em mim 
Por vezes paz 
por
		vezes guerra 
Sem paz cá dentro em mim 
só
		vejo guerra lá fora nos outros 
E sinto-me impotente para
		a parar 
Mas quando a paz se firma bem fundo 
cá
		dentro em mim 
as forças se me renovam 
Vejo as
		insinuantes raízes da guerra 
e me lanço ao
		trabalho de as arrancar 
de mim dos outros de nós 
de
		mim 
Vejo o egoísmo vejo a ambição
		
vejo a vaidade vejo o orgulho 
vejo a mentira vejo o engano
		
Vejo um ser rastejando julgando-se um herói 
Vejo
		a guerra 
Vejo a paz 
A paz não se ergue de
		olhos fechados não 
A paz não se constrói
		calando erros não 
Mas olha bem 
Olha melhor 
E
		também verás 
A pureza que há 
Em cada
		irmão 
Destruição 
Construção
		
Transmutação 
Liberdade 
ordem 
Lei
		
Justiça 
Tudo tende para o equilíbrio
		
		
		
COMO
		ESTOU 
Eu 
Eu estou aqui! 
mas que faço
		aqui? 
Para onde vou? 
Eu, eu pouco sei... 
Nem
		sequer sei, se aquilo que sei é mesmo certo.. 
Sei
		que caminho, sei que evoluo. 
Sei que para evoluir tenho de me
		construir. 
Sei que me reconstruo. 
E também
		sei que não estou só, 
que te tenho a ti, e ti
		também. 
Sei que seguimos 
Sei que nossas mãos
		já se vão estendendo, 
que se vão tocando
		
e se estão unindo. 
Sei que nos damos e nos
		recebemos, 
sei que aprendemos ... 
Aprendemos a sentir e a
		pressentir, 
a comunicar e até a amar! ... 
Mas,
		como ainda estamos, 
como ainda estou... 
Quanta raiva,
		quanto rancor, quanta dor, 
quanta inveja, quanto egoísmo,
		quanto desamor, 
quanta vaidade, quanto orgulho, quanta
		estupidez, 
quanta mentira, quanta falsidade, quanta ilusão
		
ainda aqui estão!? ... 
Ó! quanta
		inteligência quanto amor, quanta vontade 
ainda necessito
		
para deixar de estar assim! ... 
Até quando?!
		... 
Até quando terei de destruir para construir? 
Terei
		de matar, para viver? 
Terei de sofrer e fazer sofrer? 
Até
		quando?! ... 
Porque? 
Porque sou assim? 
Assassino nato,
		ladrão, 
poluidor, 
explorador da Natureza ...
		
Porquê? ... 
Ó! porque é que ainda temos
		de nos comer uns aos outros? 
Porquê? ... 
Sei
		que vim do pó, 
que passei talvez, pelo estado de átomo,
		molécula, célula 
Sei que tive de lutar para me
		organizar 
E quanto amor e quanta dor 
Para me tornar neste
		colectivo 
que agora sou, 
ou onde agora estou 
E
		eis-me de novo indivíduo 
após cumprido este ciclo
		
de humana idade... ! 
Aqui estou, 
pronto a
		seguir viagem. 
Mas sem saber ainda bem para onde ir... 
Quem
		sabe o caminho?! 
Quem me dá a mão?! 
Quem quer
		vir comigo?! 
Por onde vou?! 
Para além,
		sempre mais além... 
provavelmente ao encontro de
		um bom amigo 
que tem outro amigo, e outro amigo também...
		
E com muito amor acho que consigo! 
Vem daí
		comigo para o grande encontro, 
ao encontro desse amor antigo,
		
desse novo colectivo... 
Nesta nova vida... 
Nesta nova
		idade... 
Nesta vida maior... 
onde, de certo modo, já
		nos encontramos... 
Mas, encontremos-nos agora, também
		porque o queremos ... 
Porque queremos que a vida e o amor
		fluam, 
já não somente sobre nós, 
mas
		também, e cada vez mais conscientemente, 
em nós e
		através de nós! 
Em dádiva total... 
Para
		vivermos sem ter de matar 
Para nos alimentarmos da vida e não
		da morte 
Para nos saciarmos com a essência que transcende
		a forma 
Para nos satisfazermos plenamente de amor 
Vamos
		respeitar todos os seres que ao nosso lado vivem. 
Vamos viver
		em paz. 
Vamos comungar na harmonia. 
Vamos ser felizes!...
		
Sei que ainda pouco sabemos. 
Sei que ainda somos
		pequenos, 
que estamos em desenvolvimento, 
em crise de
		crescimento. 
Sei que a dor ainda tem seu lugar; 
que a
		inteligência se está a activar; 
que é útil
		analisar, 
mas muito mais, sintetizar 
Sei que ainda pode ser
		preciso lutar ! 
Mas já é tempo 
Já
		é tempo de amar e respeitar 
Pois tudo tem seu tempo e
		lugar 
E a liberdade está em vias de chegar!
		
		
		
		ESPERANÇA 
Abrir
		a gaiola 
libertar o pássaro 
Colher o perfume
		
deixar a flor 
lançar a semente 
recolher
		o fruto 
Saciar a sede 
não reter a fonte
		
Alimentar a fome 
não matar a vida
		
Banhar-se na água 
sem sujar o rio 
Remar
		no mar alto 
ao sabor do vento 
guiado pelo Sol 
Sair
		do labirinto 
sem lá ter entrado 
estando lá
		dentro
		
		
		
		- LABIRINTO 
Labirinto
		
É um espaço aberto 
donde não podemos
		sair 
É um tempo fechado 
por onde continuamos
		a ir 
É o perpétuo movimento 
que nos
		faz chorar e rir 
Labirinto 
É o lar o
		apartamento 
que nos compete transcender 
Labirinto
		
É a vontade é a luz é o amor 
em que
		estamos a fluir
		
		
		
		- ONDE ESTOU 
algures
		no universo 
há um verso 
no verso do uno 
tudo
		aparece e desaparece 
tudo parece 
no labirinto 
que sinto
		
onde pareço o que apareço 
tudo é feito
		de limites 
provisórios 
na habitação
		
onde vivo 
obstáculos feitos de tempo 
caminhos
		estruturados com espaço 
divisões mantidas por
		movimento 
aqui 
dimensões 
ilusões
		
		
		
		- SEMENTE 
Já
		olhaste bem para uma semente 
E conseguiste ver a árvore
		
E conseguiste ver a flor 
E conseguiste ver o fruto 
E
		admiraste-a 
E inalaste-a 
E assimilaste-o 
Então
		
Olha bem 
Tudo o que tem 
Esta minúscula semente
		
Que em ti está 
Que em todos está 
Esta
		semente 
De Infinito