"Levando a bordo El-Rei ... E erguendo, como um nome, alto o pendão Do Império, Foi-se a última nau, ... ... A que ilha indescoberta Aportou? ... Que costas é que as ondas contam E se não pode encontrar Por mais naus que haja no mar? ... Que voz vem no som das ondas Que não é a voz do mar? ... Haverá rasgões no espaço Que dêem para outro lado, ... E que, ... Aqui... Surja uma ilha velada, ... Que guarda o Rei desterrado Em sua vida encantada? ... São ilhas afortunadas, São terras sem ter lugar, Onde o Rei mora esperando... O mostrengo que está no fim do mar Veio das trevas a procurar A madrugada do novo dia,... ... Rodou e foi-se o mostrengo servo Que seu senhor veio aqui buscar Chamar aquele que está dormindo ... (Que ânsia distante perto chora?).
Procurei-te Sim procurei-te Procurei-te em tudo Procurei-te em todos No espaço e para além do espaço No tempo e para além do tempo Em todos os movimentos E na quietude Te procurei Procurei-te no ouro da terra Na verde água No azul do ar No fogo encarnado Nos quatro elementos E nas três essências Procurei-te em todas as formas Em todos os seres Procurei-te no equilíbrio dos astros Na ecologia da Terra No centro do átomo Procurei-te na geometria viva do cristal Na alma solar do vegetal No espírito universal do animal Procurei-te na inteligência da pomba No amor do cavalo Na vontade do cão Na harmonia do homem Procurei-te E em todos E em tudo Te encontrei "E em mim, num mar que não tem tempo ou espaço, Vejo entre a serração teu vulto baço Que torna ... ... É a hora! ... ergue-te do fundo de não seres Para teu novo fado! Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo, Mas já no auge da suprema prova, A alma penitente de teu povo À Eucaristia Nova. Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido, Excalibur do Fim, em jeito tal Que sua luz ao mundo dividido Revele o Santo Gral! Com duas mãos - o Acto e o Destino Desvendámos. No mesmo gesto ao Céu Uma ergue o facho trémulo e divino E a outra afasta o véu Que símbolo fecundo Vem na aurora ansiosa? Que símbolo divino Traz o dia já visto? Que símbolo final Mostra o sol já desperto? ... Mistério. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! ... Surges ao sol em mim, e a névoa finda: A mesma, e trazes o pendão ainda Do Império..." (com extractos da "MENSAGEM" de Fernando Pessoa)