REEQUILÍBRO
As crianças divertem-se
correm à apanhada
jogam às escondidas
pontapé na bola
giram o pião
Brincam com a Terra
Fissão fusão nuclear
experiências
radioactividade
Estudam o brinquedo
Fábricas empreendimentos
multinacionais
fica a fralda suja
Porcos avarentos
espalham porcaria
Tiro para aqui
bomba para ali
Jogam à pedrada
Planos projectos secretos
policias e ladrões
são uns brincalhões
Dão a volta à Terra
lançam-se no espaço
Espalham-se no chão
Pintam a Terra às cores
arrancam-lhe pedaços
brincam com o brinquedo
E não têm medo
Esperemos que o brinquedo
seja mesmo forte
e que da brincadeira
Não saia asneira
Para que os filhos
que tivermos
quando formos grandes
Tenham ainda Terra
para poder brincar
Para que me mostrais tantos medos
espingardas canhões
grandes explosões
mortos feridos sangrentos
lancinantes lamentos
terríveis horrores
Para que me mostrais tantos medos
Não vedes que já morri
morri a sério
morri de vez
Para que me mostrais tantos medos
Crianças
guardai vossos brinquedos
Para que me mostrais tantos medos
A guerra
a guerra sempre existiu
mas a paz também
Lá fora
cá dentro
nos outros
em mim
Por vezes paz
por vezes guerra
Sem paz cá dentro em mim
só vejo guerra lá fora nos outros
E sinto-me impotente para a parar
Mas quando a paz se firma bem fundo
cá dentro em mim
as forças se me renovam
Vejo as insinuantes raízes da guerra
e me lanço ao trabalho de as arrancar
de mim dos outros de nós
de mim
Vejo o egoísmo vejo a ambição
vejo a vaidade vejo o orgulho
vejo a mentira vejo o engano
Vejo um ser rastejando julgando-se um herói
Vejo a guerra
Vejo a paz
A paz não se ergue de olhos fechados não
A paz não se constrói calando erros não
Mas olha bem
Olha melhor
E também verás
A pureza que há
Em cada irmão
Destruição
Construção
Transmutação
Liberdade
ordem
Lei
Justiça
Tudo tende para o equilíbrio